Você sabe o que é teoria queer? Essa é uma expressão que, apesar de pouco conhecida pela grande maioria das pessoas, é bastante debatida entre ativistas de vários campos.
Se você se sente deslocado, gosta do diferente, do inusitado, de tudo que não se encaixa nos padrões, vai gostar de saber um pouco mais sobre o assunto.
Separamos um artigo completo explicando o que é e o que representa esse pensamento. Uma expressão repleta de significados e com uma carga simbólica.
De expressão chula, bem palavrão pejorativo mesmo, a teoria queer passou a ser referência no que diz respeito ao estudo da orientação e identidade de gênero.
Uma corrente de pensamento com milhares de adeptos ao redor do mundo. Quer conhecer mais? Acompanhe!
Primeiro, entenda o significado de “Queer
A expressão queer não possui tradução clara para o português. Para que você tenha uma ideia, qualquer dessas palavras pode ser considerada equivalente ao termo: traveco, sapatão, estranho, bicha e viado.
Por isso, a palavra pode ser usada para representar vários grupos, como gays, lésbicas, trans e bissexuais.
Pode parecer uma expressão pejorativa, mas você vai ver que agora já não é bem assim. Isso porque essa nova forma de pensar, sobre a qual vamos falar abaixo, chegou para mudar tudo.
Para resumir, a palavra queer é utilizada para designar grupos de pessoas que lutam contra a heteronormartividade.
Tudo que é estranho e diferente encontra refúgio dentro do conceito. No começo, quando o termo começou a pipocar na sociedade, existia sim um sentido pejorativo.
Afinal de contas, ser diferente foi e continua sendo um grande desafio. Vivemos em um mundo quadrado, heteronormativo e cheio de padrões. Tudo que essa teoria luta para destruir.
Nenhuma grande vitória de grupos minoritários acontece sem luta e resistência, não é mesmo?
Lá atrás, utilizar essa palavra era uma forma de ofender. Todas as pessoas que apresentavam comportamento “desviante”, como os homossexuais, travestis e transexuais, eram rotuladas.
Pois é, o termo tem um passado bem ruim. Mas as pessoas aceitavam ser chamadas assim, como forma de resistência contra os agressores. É como dizer “sim, sou viado”; uma estratégia para mostrar que assumimos nossa orientação e identidade.
Agora você pode estar se perguntando como um termo com carga tão negativa é tão importante na atualidade. Sim, vamos explicar o motivo de forma bem simples.
Entenda a essa “nova” forma de pensamento da Teoria Queer
Se a expressão queer surgiu como uma forma nada agradável de se dirigir às pessoas “diferentes”, seu pensamento veio para desconstruir conceitos. Ela surgiu na década de 1980, a partir das ideias de vários autores e pensadores.
Para citar alguns dos nomes por trás dessa história, direta ou indiretamente: Michel Foucault, Judith Butler, Eve Sedgwick, Guy Hocquenghem e Michael Warne. Mas afinal de contas, o que diz? O que ela significa?
Para começar, esse modo de pensar tem como base o entendimento de que não existe orientação sexual e identidade de gênero fixa. É tudo mutável de acordo com a construção social.
Já a queer theory, em inglês, é uma teoria da década de 1980 sobre gênero, que afirma que a orientação sexual e identidade sexual (ou de gênero) de um indivíduo são resultado de uma construção social. Ou seja, esse pensamento chuta o pau da barraca e mostra uma nova realidade.
Se tudo não passa de uma construção social, não existem papéis sexuais inatos. Em outras palavras, somos produto do meio em que habitamos. Inclusive a nossa orientação e identidade sexual.
Sabe os anormais, diferentes e desviados que antes eram praticamente xingados de queer? Não existe nenhum desvio nisso. Podemos desempenhar papéis sexuais diversos. Ou, não representar papel sexual nenhum, e está tudo bem também.
Desconstrução de rótulos proposta pela Teoria de Queer
Apesar dela ter surgido a partir de múltiplas fontes, foi na década de 90 que ela se difundiu pelo mundo. Nessa época Judith Butler lançou o livro “Problemas de Gênero”, que tratava de um estudo realizado por Teresa de Luretis na década anterior, sobre “tecnologias de gênero”.
Hoje em dia, esse pensamento é bastante estudado e debatido, principalmente entre ativistas e pessoas que não se conformam com a heteronormatividade.
E claro, não é uma teoria definitiva, isenta de erros e de críticas. Muito pelo contrário, está aberta ao diálogo e foi criada justamente para romper com rótulos e imposições.
Um dos destaques vai para a interdisciplinaridade da teoria queer. Ela envolve aspectos de muitas áreas, como:
- Sociologia;
- Antropologia;
- Artes;
- Filosofia;
- Cultura de modo geral;
- Psicologia.
Uma das teorias mais dinâmicas e descentralizadas que existem no universo da sexualidade.
E se você quer saber qual o nível de desenvolvimento desse pensamento, basta ter em mente que ela é considerada mais aprofundada do que estudos gays e estudos lésbicos.
Na verdade, esses estudos são criticados, por considerar que eles foram todos padronizados ao longo do tempo. Algo que não é nada legal.
Entenda a teoria da performatividade dentro da teoria de queer
Além de tudo o que apresentamos no decorrer deste artigo, ainda há algo interessante a ser acrescentado: a teoria da performatividade.
Segundo Butler, “O gênero é performativo porque é resultante de um regime que regula as diferenças de gênero. Neste regime os gêneros se dividem e se hierarquizam de forma coercitiva” (Butler, 2002, p. 64).
De maneira sucinta, podemos dizer que a teoria da performatividade diz respeito à repetição de normas que vemos em nossa sociedade – os famosos “padrões”. Essa repetição cria uma espécie de ritual que, consequentemente, desenvolve sujeitos “repetidos, padronizados e iguais”.
A partir disso, quem ousar se desenvolver fora dessa repetição, e desses rituais, é visto como algo extremamente errado e ruim. Ou seja, algo fora do padrão: qualquer pessoa que não seja hétero.
Quer um resuminho sobre o significado da teoria?
Ela diz que os rótulos devem ser questionados e problematizados sempre. Não somos uma constante, mas sim uma construção social.
Podemos ser algo hoje, algo amanhã e algo depois de amanhã. Podemos dormir e acordar sendo algo completamente diferente.
Afinal, como seres sociais, estamos constantemente fazendo trocas com as outras pessoas. Nessas trocas, descobrimos novos gostos, desejos, sonhos, objetivos, etc. Isso pode nos dar a entender que teremos sempre novos papéis e versões de nós mesmos, ao longo de nossas vidas.
O ambiente influencia em quem somos. As outras pessoas influenciam. Tudo influencia na construção da nossa personalidade e até mesmo de nossos pensamentos. Ou seja, a sexualidade pode ser vista como uma parte de toda essa construção.
Agora que você já sabe um pouco mais sobre a teoria queer, o que achou? Esse é um assunto muito amplo que, apesar da sua complexidade, quer passar uma mensagem muito simples: todos os padrões são ruins.
Afinal, convenhamos: os padrões são irreais e todas as pessoas possuem diferenças. E todas válidas.